sexta-feira, 29 de abril de 2011

«CONTOS DO NASCER DA TERRA»

Mia Couto
Escritor Moçambicano

IX CONTO - «A viagem da cozinheira lagrimosa»

«Cozinheira Baiana»
Pintura Brasileira

A VIAGEM DA COZINHEIRA LAGRIMOSA

Antunes Correia e Correia, sargento colonial em tempo de guerra. Se o nome era redundante, o homem estava reduzido a metades. Pisara um chão traiçoeiro e subira pelas alturas para esse lugares onde se deixa a alma e se trazem eternidades. Correia não deixou nem trouxe, incompetente até para morrer. A mina que explodira era pessoal. Mas ele, tão gordo, tão abastado de volume, necessitava de duas explosões.
- “Estou morto por metade. Fui visitado apenas por meia-morte.”
Perdera a vida só num olho, um lado da cara todo desfacelado. O olho dele era faz-conta um peixe morto no aquário do seu rosto. Mas o sargento era tão apático, tão sem meximento, que não se sabia se de vidro era todo ele ou apenas o olho. Falava com impulso de apenas meia-boca. Evitava conversas, tão doloroso que era ouvir-se. Não apertava a mão a ninguém para não sentir nesse aperto o vazio de si mesmo. Deixou de sair, cismado em visitar no obscuro da casa a antecâmara do túmulo. O Correia perdera interesses na vida: ser ou não ser tanto lhe desfazia. As mulheres passavam e ele nada. Ela dainhava: “estou morto por metade”.
Agora, reformado, sozinho, mutilado de guerra e incapacitado de paz, Antunes Correia e Correia tomava conta de suas lembranças. E se admirava do fôlego da memória. Mesmo sem o outro hemisfério não havia momento que lhe escapasse nessa caçada ao passado. “Das duas uma: ou minha vida foi muito enorme ou ela fugiu-me toda para o lado direito da cabeça”. Para as recordações virem à tona ele inclinava o pescoço.
- “Assim escorregavam directamente do coração”, dizia ele.
Felizminha era a empregada do sargento. Trabalhava para ele desde a sua chegada ao bairro militar. Nos vapores da cozinha a negra Felizminha arregaçava os olhos. Enxugava a lágrima, sempre tarde. Já a gota tombara na panela. Era certo e havido: a lágrima se adicionando nas comidas. Tanto que a cozinheira nem usava tempero nem sal. O sargento provava a comida e se perguntava porquê tão delicados sabores.
- “É comida temperada a tristeza”.
Era a invariável resposta de Felizminha. A empregada suspirava: “ai, se pudesse ser outra, uma alguém”. 
Poupava alegrias, poucas que eram.
- “Quero guardar contentamento para gastar depois, quando for mais velhinha”.
Metida a sombra, fumo, vapores. Nem sua alma ela enxergava nada, embaciada que estava por dentro. A mão tiritacteava no balcão. O recinto era escuro, ali se encerravam voláteis penumbras. A cozinha é onde se fabrica a inteira casa.
Certa noite, o patrão entrou na cozinha, arrastando seu peso. Esbarrou com a penumbra.
- “Você não quer mais iluminação na porcaria desta cozinha?
- “Não, eu gosto assim.”
O sargento olha para ela. A gorda Felizminha remexe a sopa, relambe a colher, acerta o sal na lágrima. O destino não lhe encomendou mais: apenas esse encontro de duas meias vidas. Correia e Correia sabe quanto deve à mulher que o serve. Logo após o acidente, ninguém entendia as suas pastosas falas. Carecia-se era de serviço de mãe para amparar aquele branco mal-amanhado, aquele resto de gente. O sargento garatunfava uns sons e ela entendia o que queria. Aos poucos o português aperfeiçoou a fala, mais apessoado. Agora ele olha para ela como se estivesse ainda em convalescença. O roçar da capulana dela amansa velhos fantasmas, a voz dela sossega os medonhos infernos saídos da boca do fogo. Milagre é haver gente em tempo de cólera e guerra.
- “Você está magra, anda a apertar as carnes?
- “Magra?”
Pudesse ser! A tartaruga: alguém a viu magrinha? Só os olhos lhe engordavam,
barrigando de bondades. A gorda Felizminha gemia tanto ao se baixar que parecia que a terra estava mais longe que o pé.
- “Me esclareça uma coisa, Felizminha: porquê essa choradice, todos os dias?
- “Eu só choro para dar mais sabor aos meus cozinhados.
- “Ainda eu tenho razões para tristezas, mas você...
- “Eu de onde vim tenho lembrança é de coqueiros, aquele marejar das folhas faz
conta a gente está sempre rente ao mar. É só isso, patrão”.
A negra gorda falou enquanto rodava a tampa do rapé, ferrugentia. O patrão meteu a mão no bolso e retirou uma caixa nova.  Mas ela recusou aceitar.
- “Gosto de coisa velha, dessa que apodrece.
- “Mas você, minha velha, sempre triste. Quer aumento no dinheiro?
- “Dinheiro, meu patrão, é como lamina... corta dos dois lados. Quando contamos as notas se rasga a nossa alma. A gente paga o quê com o dinheiro? A vida nos está cobrando não o papel mas a nós, próprios. A nota quando sai já a nossa vida foi. O senhor se encosta nas lembranças. Eu me amparo na tristeza para descansar”.
A gorda cozinheira surpreendeu o patrão. Lhe atirou, a queimar-lhe a roupa:
- “Tenho ideia para o senhor salvar o resto do seu tempo.
- “Já só tenho metade de vida, Felizminha.
- “A vida não tem metades. É sempre inteira”...
Ela desenvolveu-se: o português que convidasse uma senhora, dessas para lhe acompanhar. O sargento ainda tinha idade combinando bem com corpo. Até há essas da vida, baratinhas, mulheres muito descartáveis.
- “Mas essas são pretas e eu com pretas...
- “Arranje uma branca, também há ai dessas de comprar. Estou-lhe a insistir, patrão.O senhor entrou na vida por caminho de mulher. Chame outra mulher para entrar de novo”.
Correia e Correia semi-sorriu, pensageiro.
Um dia o militar saiu e andou a tarde toda fora. Chegou a casa, eufórico, se encaminhou para a cozinha. E declarou com pomposidade:
- “Felizminha: esta noite ponha mais um prato”.
A alma de Felizminha se enfeitou. Esmerou na arrumação da sala, colocou uma cadeira do lado direito do sargento para que ele pudesse apreciar por inteiro a visitante. Na cozinha apurou a lágrima destinada a condimentar o repasto.
Aconteceu, porém, que não veio ninguém. O lugar na mesa permaneceu vazio. Essa e todas as outras vezes. _única mudança no cenário: o assento que competia à invindável visita passava da direita para a esquerda, esse lado em que não havia mundo para o sargento Correia.
Felizminha duvidava: essas que o patrão convidava existiam, verídicas e autênticas?
Até que, uma noite, o sargento chamou a cozinheira. Pediu-lhe que tomasse o lugar das falhadas visitadoras.
Felizminha hesitou. Depois, vagarosa, deu um jeito para caber na cadeira.
- “Decidi me ir embora”.
Felizminha não disse nada. Esperou o que restava para ser dito.
- “E quero que você venha comigo.
- “Eu, patrão? Eu não saio da minha sombra.
- “Vens e vês o mundo.
- “Mas ir lá fazer o quê, nessa terra...
- “Ninguém te vai fazer mal, eu prometo”.
Daí em diante, ela se preparou para a viagem. Animada com a ideia de ver outros lugares? Aterrada com a ideia de habitar terra estranha, lugar de brancos? Nem rosto nem palavra da cozinheira revelavam a substancia de sua alma. O sargento provava a refeição e não encontrava mudança. Sempre o mesmo sal, sempre a mesma delicadeza de sabor. No dia acertado, o militar acotovelou a penumbra da cozinha:
- “Venha, faça as mulas”.
Saíram de casa e Felizminha cabisbaixou-se ante o olhar da vizinhança. Então o sargento, perante o público, deu-lhe a mão. Nem se entrecabiam bem de tão gordinhas, os dedos escondendo-se como sapinhos envergonhados.
- “Vamos”, disse ele.
Ela olhou os céus, receosa por, daí a um pouco, subir em avião celestial, atravessar mundos e oceanos. Entrou na velha carrinha, mas para seu espanto Correia não tomou a direcção do aeroporto. Seguiu por vielas, curvas e areias. Depois, parou num beco e perguntou:
- “Para que lado fica essa terra dos coqueiros?”

Mia Couto
Até prá semana...
Poet'anarquista

HISTÓRIAS DESTE DIA

Aconteceu a 29 de Abril...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

25 DE ABRIL 2011 - DISCURSO NA MINA DO BUGALHO

Intervenção do Presidente da Câmara Municipal do Alandroal nas comemorações do 25 de Abril de 2011, na aldeia da Mina do Bugalho.
Poet'anarquista
25 de Abril de 2011 - Mina do Bugalho
«João Grilo na sua Intervenção»


25 de Abril 2011 - Intervenção do Presidente da Câmara do Alandroal



«Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal»

«Srs. Vereadores, Srs. Presidentes de Junta e restantes autarcas»

«Minhas senhoras e meus senhores»

«Caras amigas, caros amigos»

Quero antes de mais felicitar a Sra. Presidente da Junta pelo seu trabalho que hoje inauguramos e pelo modo como estamos a ser e sempre fomos, bem recebidos nesta terra. Este trabalho é a prova de que com o apoio certo da câmara, as juntas de freguesia, com a sua dinâmica própria, podem fazer a diferença ao serviço das populações.

Celebramos o 25 de Abril num momento de profunda crise que a todos nos levanta dúvidas quanto ao futuro! Não adianta perguntar como chegámos aqui. Já todos vamos percebendo como. Importa saber como vamos seguir em frente.

Todos sabemos também que no concelho enfrentamos dificuldades acrescidas face ao estado de quase falência em que ficámos. A autarquia, por sua vez, lida todos os dias o melhor que pode com uma situação financeira no limite de sustentabilidade enquanto procura recuperar dos excessos do passado.

Se não fosse a pesada dívida que temos às costas teríamos, à partida, mais margem de manobra e mais capacidade de resposta. Não é motivo para baixarmos os braços...

Nas últimas eleições os munícipes deste concelho escolheram ser governados por quem lhes prometeu verdade, honestidade, transparência e muito trabalho para mudar o concelho.

Porque prometemos verdade, não escondemos as dificuldades que enfrentamos.
Porque prometemos honestidade, não prometemos aquilo que não podemos cumprir.
Porque prometemos transparência prestamos contas todos os dias das nossas acções.
Porque prometemos muito trabalho, é a trabalhar no concelho e para o concelho que ocupamos o nosso tempo.
E porque prometemos a mudança, sabemos que apesar das dificuldades não nos podemos afastar desse caminho.

Tenho sentido que é um caminho difícil e cheio de obstáculos. Sempre foi assim o caminho dos justos. Não esperava outra coisa.

Há quem prefira meias verdades à verdade completa.
Há quem prefira que lhes vendam ilusões à honestidade.
Há quem prefira a dissimulação à transparência.
E há quem prefira fingir que trabalha a trabalhar a sério.

Mas tenho sentido também muito apoio e muita compreensão e como tal acredito que a grande maioria dos nossos munícipes não só quer que continuemos assim, como exige que continuemos assim, porque já foram demasiado enganados no passado.

E é esse o nosso compromisso que hoje aqui reforço: continuar a trabalhar com verdade, honestidade, transparência e dedicação absoluta.

37 anos depois do 25 de Abril de 1974, pode haver quem se sinta desiludido com o ponto em que estamos. Quem pense que muitas das promessas de Abril estão ainda por cumprir e outras parecem hoje mais distantes.

É verdade que enfrentamos tempos incertos, mas não tenhamos a mais pequena dúvida, as dificuldades da vida democrática são sempre preferíveis às promessas da ditadura.

A liberdade precisa de ser reforçada todos os dias com empenho, com disponibilidade, com acções concretas.

Este é um momento em que a sociedade civil deve dar o seu contributo máximo e não ficar apenas à espera que os políticos resolvam!

Hoje, mais do que nunca, devemos estar unidos pelo concelho, unidos pelo país, unidos pela democracia, unidos pela nossa forma de vida e pelo futuro dos nossos filhos!

É neste sentido que temos trabalhado de modo especial para enfrentar a crise. Apesar das dificuldades, temos procurado desenvolver, desde o início do mandato, um trabalho de resposta atempada, de proximidade e de compromisso com o que a população espera da Autarquia.

Procuramos não defraudar as expectativas dos fornecedores locais e pagar a tempo e horas.

Estamos atentos aos nossos compromissos na educação, na acção social (cartão social do idoso) e noutras respostas.

Não descurarmos a construção de um projecto de futuro para o concelho com os pés bem assentes na terra, através de um significativo conjunto de medidas de apoio aos empresários e à economia local.

Para além de tudo o que já está no terreno, estamos a preparar novas medidas para aumentar a nossa capacidade de resposta social em tempo de crise.

Temos em fase de discussão pública um Regulamento de Intervenção Social no Município de Alandroal que pretende constituir-se como um plano de acção social direccionado às famílias em situação de pobreza ou carência financeira motivadas por situações de desemprego de um ou dois elementos do agregado familiar.

Paralelamente, estamos a preparar um protocolo com o Centro Social e Paroquial de Alandroal para um reforço da valência “família e comunidade” que apoia directamente os mais necessitados.

Vamos formalizar um protocolo de colaboração com os Bombeiros Voluntários de Alandroal para garantir que estes vão ter condições para estar próximo das pessoas quando são necessários.

E por fim, porque em tempo de crise é particularmente importante que estejamos todos do mesmo lado na procura de soluções, vou promover a criação de um Conselho Consultivo Municipal, constituído por membros da sociedade civil do concelho, para enriquecer o debate e ampliar a reflexão sobre o rumo a traçar.

Nos nossos quase 900 anos de história já mostrámos muitas vezes que somos um povo capaz de enfrentar as maiores dificuldades e seguir em frente.

O povo sempre soube, nas mais diversas situações, escolher os políticos que o país ou que o concelho precisavam. Acreditamos que somos, hoje, o exemplo disso!

É nos momentos difíceis da vida e da política que os homens e mulheres se distinguem uns dos outros. Os que lutam por construir e não deixam de acreditar num futuro melhor para todos e os que, pelo contrário, vêm na política um meio para outros fins.

Quero destacar aqui dois homens, dois filhos desta terra onde estamos, que tem sabido estar do lado certo nos momentos difíceis colocando os interesses do concelho acima de tudo.

O Vereador Costa que tem colocado a sua experiência e trabalho continuado ao serviço do desenvolvimento desta freguesia e deste concelho, mesmo quando já tinha provas dadas e quando teria sido muito mais fácil nada fazer.

O Vereador Galhardas que nunca virou as costas às dificuldades e no momento certo não hesitou fazê-lo mais uma vez.

Quero dizer-vos que tenho absoluta confiança nestes dois homens para enfrentarmos juntos os desafios que ai vêem.

Estendo esta confiança a toda a minha restante equipa e a todos vós. Porque a vossa ajuda é fundamental para o sucesso da nossa missão. Juntos fazemos a diferença todos os dias.

Viva o 25 de Abril!

Viva o Concelho do Alandroal!!

Viva Portugal!!!
Fonte: MUDA

RETROSPECTIVA - 25 DE ABRIL DE 2011

O 25 de Abril foi festejado no Concelho do Alandroal, com várias iniciativas de âmbito cultural, que assinalaram o dia da Revolução e da Liberdade. Este ano, com uma política de descentralização de eventos, os festejos tiveram lugar no Fórum Cultural do Alandroal, em Terena junto à Barragem do Lucifécit e na Mina do Bugalho.

Muitos parabéns ao trigésimo sétimo aniversário do 25 de Abril... Viva a Liberdade!
Poet'anarquista
 «Vozes d'Alqueva»
 25 de Abril - Barragem do Lucifécit

«Espectáculo Pirotécnico»
25 de Abril - Barragem do Lucifécit

«Espectáculo Piroaquático»
25 de Abril - Barragem do Lucifécit

Dia da Liberdade Comemorado em Ambiente de Esperança num Futuro Melhor

Passados 37 anos da revolução do “25 de Abril", e numa altura em que o país enfrenta grandes desafios, ganha ainda mais importância a necessidade de recordar os valores que estiveram na origem da “revolução dos cravos”, a liberdade, a democracia e a luta por um futuro melhor. 

No Alandroal, esta evocação foi feita através de um conjunto de iniciativas em que a Câmara Municipal se associou, este ano, à Junta de Freguesia de S. Brás dos Matos – Mina do Bugalho e à Associação para a Protecção dos Idosos de Terena (APIT).

A noite do dia 24, na Barragem do Lucefécit, começou com as “Vozes d’Alqueva”, a que se seguiu um espectáculo pirotécnico e piroaquático, que encheu de cor a Barragem de Lucefécit. 

Já a manha do dia 25 de Abril foi marcada pelas tradicionais cerimónias de hastear da bandeira, no edifício sede do Município e em todas as freguesias do concelho. As celebrações continuaram de tarde, na localidade da Mina do Bugalho, onde foram inaugurados o “Parque Sénior” e o “Parque de Merendas”, construídos pela Junta de freguesia de São Brás dos Matos (Mina do Bugalho) com o apoio financeiro da Câmara Municipal integrado no âmbito da componente de investimento, prevista no Protocolo de Delegação de Competências assinado com esta Junta de Freguesia no ano de 2010. 

Na sua intervenção, o Presidente da Autarquia alandroalense, João Grilo, referiu que “neste momento difícil que o país, e consequentemente, o concelho atravessam, é importante que estejamos todos unidos na reflexão sobre os desafios colectivos que nos esperam. O Executivo Municipal vai continuar empenhado em cumprir o seu trabalho com total dedicação, seriedade e transparência, porque só dessa forma conseguiremos ultrapassar as dificuldades que se nos apresentam”, referiu ainda o autarca.

A terminar as celebrações, ouve ainda espaço para um espectáculo de fados, com algumas das melhores vozes do concelho e para um lanche convívio oferecido pela Autarquia alandroalense e pela junta de freguesia de são Brás dos Matos. Entre temas relacionados com os valores de Abril, vozes como Bernardino Roma, Francisco Valentim ou Lúcia Roma, alegraram o final de tarde do dia 25 de Abril.
Fonte: Gabinete de Imprensa da CMAlandroal

Organização: Câmara Municipal do Alandroal
 Vila d'Landroal

    

PINTURA - JOSÉ MALHOA

José Vital Branco Malhoa, conhecido como José Malhoa, nasceu nas Caldas da Rainha, a 28 de Abril de 1855. Importante pintor e desenhista, pioneiro do naturalismo em Portugal, e também um dos que mais se aproximou da corrente artística impressionista, desempenhou igualmente funções como professor de língua portuguesa. Foi o primeiro presidente da «Sociedade Nacional de Belas Artes», tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago. No ano da sua morte, 26 de Outubro de 1933, foi criado nas Caldas da Rainha o «Museu de José Malhoa», em sua homenagem.
Poet'anarquista
José Malhoa
Pintor e Desenhador Português
HISTORIAL 

Pintor de arte e professor, mais conhecido só pelo nome de José Malhoa, nasceu nas Caldas da Rainha a 28 de Abril de 1854. Aos 12 anos, em 1867, entrou para a escola de belas artes, e revelou logo tantas aptidões e tanta dedicação pelo estudo, que terminou o curso ganhando em todos os anos o primeiro prémio. 

Tendo concluído o curso pensou em completar a sua educação artística no estrangeiro, e entrou em dois concursos para pensionista do Estado. Nada conseguiu, apesar do seu reconhecido merecimento, por ser o subsídio adjudicado a outro concorrente, que só o alcançara por importantes empenhos. As reclamações, feitas contra este facto, foram tão convincentes, que a Academia, para não descontentar ninguém, viu-se forçada a não mandar nenhum. 

Malhoa sentiu-se muito, como artista a quem preteriam o mérito, e pela impossibilidade de completar os seus estudos com os primeiros mestres da arte moderna, pois não tendo meios de fortuna que lhe permitissem ir viver independentemente no estrangeiro, só com aquele auxilio o conseguiria. 

Desesperado com este contratempo, desistiu da carreira que tão auspiciosa se lhe mostrava, e teve intenção de nunca mais pintar. Fez-se então caixeiro duma loja de modas pertencente a um seu irmão. Aquele desespero, porém, foi-se amenizando; Malhoa não podia assim perder o seu aturado e dedicado estudo, e seis meses depois já ele aproveitara algumas horas disponíveis para pintar um quadro, «A Seara Invadida», que enviou à exposição de Madrid, onde foi muito bem recebido. 

Em 1881 deixou o comércio para se dedicar inteiramente a arte. O primeiro trabalho, que lhe ofereceram, foi o de pintar o tecto da sala de concerto no Conservatório Real de Lisboa. Algum tempo depois pintou o da sala do Supremo Tribunal de Justiça de Lisboa. Desde então tornaram-se numerosos os trabalhos do distinto artista, em que se nota o tecto da sala de jantar do palácio do conde de Burnay e o dos aposentos do infante D. Afonso. Na pintura histórica tem o grande quadro «O Último Interrogatório do Marquês de Pombal», e o esboceto apresentado no concurso que a câmara municipal de Lisboa abriu em 1887 para um quadro representando «A Partida de Vasco da Gama para a Índia», esboceto que recebeu a primeira classificação entre os concorrentes, sendo nessa ocasião Malhoa agraciado com o Grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo por decreto de 19 de Abril de 1888. 

São deste apreciado artista os retratos «D'el-rei D. Carlos» que estão nas salas do Tribunal do Comércio e do Tribunal de Contas; um retrato do príncipe real «D. Luís Filipe», um da filha de Henrique Sauvinet, os de «D. Luísa de Almedina» e de «Isaac Abecassis». Nos seus quadros também se contam numerosas paisagens, cenas rústicas, cuidadosamente estudadas, costumes pitorescos de aldeia, como o «Viático ao Termo» e a «Missa das Seis»; também alguns quadros do género como o «Primeiro Cigarro», pertença do infante D. Afonso, e um grupo de veteranos fazendo a «Descrição da Batalha de Asseiceira»

Em todas as exposições de Belas Artes do Porto, José Malhoa têm exposto quadros seus, obtendo sempre as mais altas classificações. Também tem concorrido a exposições no estrangeiro, como Liverpool, Madrid, Paris, Rio de Janeiro, S. Petersburgo e Berlim, onde alcançou a segunda medalha. José Malhoa tem as honras de académico de mérito da Academia de Belas Artes, e além de Cavaleiro de Cristo, é Cavaleiro da Ordem de Malta, e da de Isabel a Católica, de Espanha. Possui a medalha de prata da Cruz Vermelha. 

Em 17 de Abril de 1906 el-rei D. Carlos I visitou o atelier de José Malhoa, onde foi admirar os trabalhos destinados à sua exposição, no Gabinete de Leitura no Rio de Janeiro, para que fora convidado. El-rei analisou miniciosamente todas as telas do pintor, fazendo sobre cada quadro uma apreciação muito lisonjeira.
Fonte: Portugal Diccionário Histórico
«Bêbados»
José Malhoa

«O Fado»
José Malhoa 

«O Atelier do Artista»
José Malhoa 

«Praia das Maçãs»
José Malhoa 

«As Promessas»
José Malhoa 

«Milho ao Sol»
 José Malhoa 

«Vou ser Mãe»
José Malhoa 


«PINTURA PORTUGUESA» 

JOSÉ MALHOA

HISTÓRIAS DESTE DIA

Aconteceu a 28 de Abril...

PINTURA - FRANCIS BACON

Francis Bacon nasceu em Dublin, na Irlanda, a 28 de Outubro de 1909. Pintor anglo-irlandês de obra figurativa, era descendente colateral do filósofo do período «Elisabetano», Francis Bacon (1561-1626). Com um trabalho audaz e ao mesmo tempo austero, pintava com frequência o grotesco ou imagens de pesadelo. A sua obra esteve em exposição em Portugal, «Museu Serralves», na cidade do Porto em 2003. Faleceu em Madrid, a 28 de Abril de 1992.
Poet'anarquista
Francis Bacon (foto: Getty)
Pintor Irlandês
BREVE BIOGRAFIA

Pintor anglo-irlandês, autor de pinturas figurativas, Francis Bacon nasceu em 28 de Outubro de 1909, e faleceu em 28 de Abril de 1992. Era descendente colateral do homônimo Francis Bacon, o filófoso.

Nasceu em Dublin, sendo filho de um veterano da Segunda Guerra dos Bôeres. Foi educado pela enfermeira da família, sofreu de asma na infância, o que obrigava a família a mudar constantemente entre Inglaterra e Irlanda.

A sua delicadeza feminina irritava o seu pai, no decorrer de seu amadurecimento chegou a vestir-se de mulher numa festa de fantasia.

Nos seus quadros abordava temas chocantes referentes a fantasias masoquistas e recorte de corpos humanos. Esboçava imagens violentas ligadas à tensão homoerótica.

Tinha fascínio pelo corpo humano, e a representação da transgressão sexual e religiosa. Os seus quadros ajudaram a construir a visão «modernista» do mundo. A sua primeira exposição individual ocorreu na Lefevre Gallery em 1945.
Fonte: InfoEscola
«Tríptico»
Francis Bacon

«Cabeça VI»
Francis Bacon

«Estudo Sobre o Corpo Humano»
Francis Bacon

«Estudo Sobre o Corpo Humano»
Francis Bacon

«Cabeça III»
Francis Bacon

«Pintura de um Cão»
Francis Bacon

«O Fim da Linha»
Francis Bacon

«PINTURAS FIGURATIVAS»
FRANCIS BACON

terça-feira, 26 de abril de 2011

PINTURA - EUGÈNE DELACROIX

Considerado o mais importante pintor francês do período romântico, Ferdinand Victor Eugène Delacroix, ou simplesmente Delacroix, nasceu a 26 de Abril de 1798, em Charenton-Saint-Maurice. Algumas particularidades de grandes mestres da pintura (Rubens, Veronese, Turner e Géricault), são bem evidentes na sua obra. Este pintor, que como poucos soube pôr na tela os seus sentimentos através da cor, escreveu: «nem sempre a pintura precisa de um tema». Estas breves palavras foram de uma grande importância para os movimentos artísticos de finais do séc. XIX e princípios do séc. XX. Delacroix faleceu em Paris, a 13 de Agosto de 1863.
Poet'anarquista
Eugène Delacroix
Foto: Léon Riesener em 1842

«Auto-Retrato»
Delacroix
BIOGRAFIA
26 de Abril de 1798, Charenton-Saint-Maurice (França)
13 de Agosto de 1863, Paris (França)

Eugène Delacroix, pintor francês, nasceu em Charenton-Saint-Maurice, em 26 de abril de 1798, e faleceu em Paris, no dia 13 de agosto de 1863. Começou os seus estudos de pintura em 1813 na École des Beaux-Arts (Escola de Belas Artes), no atelier de Pierre-Narcisse Guérin, onde foi colega de Theodore Géricault.

Sob a influência do realismo romântico de Géricault, Delacroix expôs no Salão de 1822 a tela «Dante et Virgile aux enfers» (1822), também chamada de «A barca de Dante», que provocou críticas favoráveis e contrárias. A polémica acentua-se quando apresenta no Salão de 1824 «Scènes des massacres de Scio» (1824), ou «O massacre de Quios», narrando episódios dramáticos da guerra da independência da Grécia contra a Turquia. Em 1828, refaz a tela, separando as pinceladas e avivando o colorido, após ter visto em Londres, em 1827, obras de Bonington e de John Constable.

Com a tela «La mort de Sardanapale» (1827), «A morte de Sardanápalos», de composição extremamente movimentada e cores vivas, passa a ser considerado como o chefe da escola romântica francesa de pintura. Cada vez mais se inspira em temas românticos ou em episódios medievais. Converte-se então no alvo principal dos académicos da Escola de Belas Artes, adeptos do neoclassicismo de David e Ingres, seu rival na época. Comovido com os acontecimentos políticos de julho de 1830, pinta uma alegoria à liberdade, à França e ao seu povo, que representa nas suas diversas classes sociais: «A Liberdade guiando o povo» (1831), hoje no Museu do Louvre.

De janeiro a julho de 1832, visitou o Marrocos como membro de uma delegação francesa. Seduzido pelo exotismo e pela luminosidade do país, executou uma série de desenhos e aguarelas sobre os costumes pitorescos dos árabes, que mais tarde utilizará em telas como «Les femmes d'Alger» («As mulheres de Argel»).

Em 1836 executa para o governo uma série de decorações, entre as quais a do salão do rei no palácio Bourbon (1833-1836) e a da biblioteca do palácio de Luxembourg (1849-1861). Um dos seus maiores murais é o da capela dos anjos da Igreja de Saint-Sulpice (1849-1861). Especialmente no quadro que representa Jacó em luta contra o anjo, Delacroix revela-se o último grande muralista de tradição barroca.

Em 1840, com a técnica já madura, conserva a sua originalidade, mas as suas pinceladas vigorosas e separadas, a sua cor de tons dourados e a sua composição barroca lembram Rubens e Paolo Veronese. Apesar da sua popularidade entre os intelectuais jovens, do seu sucesso de público e mesmo do apoio do governo, Delacroix ainda é hostilizado pelos neoclássicos, que só o aceitam em 1857.

Passa os últimos anos de vida em reclusão, isolado no seu atelier, onde morreu. Em 1865 apareceu a primeira edição do seu «Diário», provando que, além de grande pintor, Delacroix era excelente escritor, pensando profundamente sobre a sua arte.

Delacroix restituiu à pintura, além do movimento e da cor, o seu carácter passional. A sua obra revela o individualismo exaltado pela Revolução Francesa e pela epopéia napoleónica. O seu objectivo é criar emoção e energia, exaltadas por fortes contrastes de cores, por um desenho torturado e por uma composição turbilhonante. Traduziu em pintura os sentimentos contidos em Goethe, Beethoven, Victor Hugo e Baudelaire. Não deixou uma escola, mas os impressionistas e os neo-impressionistas sofreram a sua influência.
Fonte: UOL Educação
«A Morte de Sardanapalo»
Delacroix

«Cristo nas Oliveiras»
Delacroix

«Cristo no Lago de Genesaré»
Delacroix

«Liberdade Guiando o Povo»
Delacroix

«Mulheres de Argel»
Delacroix

«Os Fanáticos de Tânger»
Delacroix

«Rapariga no Cemitério»
Delacroix

«PINTURA DO MOVIMENTO ROMÂNTICO FRANCÊS»
EUGÈNE DELACROIX

HISTÓRIAS DESTE DIA

Aconteceu a 26 de Abril...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

AINDA ABRIL...

ABRIL DE 74 - «OS VALORES»

Há que pôr de novo Abril a florir,
Fazer brotar a semente adormecida...
Recomeçar hoje para fazer cumprir,
Os valores da Revolução Esquecida!


POETA
«A Revolução dos Bichos»
George Orwell

Ainda não foram cumpridos valores essenciais de dignidade humana.
A Revolução continua adiada...
Até quando???
Poet'anarquista
«LIBERDADE»
SÉRGIO GODINHO


Liberdade

Sérgio Godinho
Composição: Sérgio Godinho

Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão
habitação
saúde, educação
Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir

Sérgio Godinho