sábado, 29 de outubro de 2011

POESIA - ADALGISA NÉRY

Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira, mais conhecida por Adalgisa Néry, nasceu no Rio de Janeiro a 29 de Outubro de 1905. Esta importante poetisa e jornalista brasileira, da escola modernista, viria a falecer na sua cidade natal, a 7 de Junho de 1980.
Poet'anarquista
Adalgisa Néry
 Poetisa Brasileira
BREVE BIOGRAFIA

A escritora, jornalista e política brasileira Adalgisa Néry, nasceu no Rio de Janeiro a 29 de Outubro de 1905. Casou-se aos 16 anos com o pintor e poeta paraense Ismael Néry, um dos precursores do Modernismo no Brasil. Graças a frequentes reuniões em sua casa, ingressou num sofisticado circuito intelectual, passando a conviver com literários como Manuel Bandeira, Carlos Drumond de Andrade e Murilo Mendes. Após o falecimento de Ismael Néry iniciou carreira na literatura, publicando o seu primeiro trabalho em 1935 na Revista Académica. 

Em 1940 casou-se com o jornalista e advogado Lourival Fontes, director-geral do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão do estado Novo responsável pela censura, posteriormente nomeado embaixador do Brasil no México. Com isso Adalgisa Néry passou a frequentar a elite intelectual daquele país, tendo sido retratada por Diogo Rivera e Frida Kalo.

De volta ao Brasil, após a sua separação, iniciou carreira como articulista política, tendo escrito, de 1955 a 1966 no jornal Última Hora, numa coluna diária intitulada «Retratos sem Retoques». O sucesso da coluna levou a candidatar-se pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Foi eleita à Assembleia Constituinte do então estado da Guanabara, em 1960; foi reeleita por mais dois mandatos em 1962 e 1966.

Adalgisa alcançou o seu maior sucesso literário com o romance autobiográfico «A Imaginária» publicado em 1959. Em seguida publicou livro de contos, volumes de poesias. Foi presa pela junta militar em 1969. Faleceu em 1980 em um abrigo de idosos no Rio de Janeiro.
Fonte: Mulher500Anos


PENSAMENTOS QUE REÚNEM UM TEMA

Estou pensando nos que possuem a paz de não pensar,
Na tranqüilidade dos que esqueceram a memória
E nos que fortaleceram o espírito com um motivo de odiar.
Estou pensando nos que vivem a vida
Na previsão do impossível
E nos que esperam o céu
Quando suas almas habitam exiladas o vale intransponível.
Estou pensando nos pintores que já realizaram para as multidões
E nos poetas que correm indefinidamente
Em busca da lucidez dos que possam atingir
A festa dos sentidos nas simples emoções.
Estou pensando num olhar profundo
Que me revelou uma doce e estranha presença,
Estou pensando no pensamento das pedras das estradas sem fim
Pela qual pés de todas as raças, com todas as dores e alegrias
Não sentiram o seu mistério impenetrável,
Meu pensamento está nos corpos apodrecidos durante as batalhas
Sem a companhia de um silêncio e de uma oração,
Nas crianças abandonadas e cegas para a alegria de brincar,
Nas mulheres que correm mundo
Distribuindo o sexo desligadas do pensamento de amor,
Nos homens cujo sentimento de adeus
Se repete em todos os segundos de suas existências,
Nos que a velhice fez brotar em seus sentidos
A impiedade do raciocínio ou a inutilidade dos gestos.
Estou pensando um pensamento constante e doloroso
E uma lágrima de fogo desce pela minha face:
De que nada sou para o que fui criada
E como um número ficarei
Até que minha vida passe.

Adalgisa Néry

POEMA NATURAL

Abro os olhos, não vi nada
Fecho os olhos, já vi tudo.
O meu mundo é muito grande
E tudo que penso acontece.
Aquela nuvem lá em cima?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Ontem com aquele calor
Eu subi, me condensei
E, se o calor aumentar, choverá e cairei.
Abro os olhos, vejo um mar,
Fecho os olhos e já sei.
Aquela alga boiando, à procura de uma pedra?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Cansei do fundo do mar, subi, me desamparei.
Quando a maré baixar, na areia secarei,
Mais tarde em pó tomarei.
Abro os olhos novamente
E vejo a grande montanha,
Fecho os olhos e comento:
Aquela pedra dormindo, parada dentro do tempo,
Recebendo sol e chuva, desmanchando-se ao vento?
Eu estou lá,
Ela sou eu.

Adalgisa Néry 

EU TE AMO!!!

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita do tempo
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
Em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

Adalgisa Néry

1 comentário:

dimontesartes.blogspot.com.br disse...

olá amigo tudo bem?
por favor vc saber em que cemitério do rio de janeiro. está enterrada esta maravilhosa mulher?
obrigado desde já.
franciscodimontes@hotmail.com
ou veja o meu blog:
http://dimontesartes.blogspot.com