segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

POESIA - FILINTO ELÍSIO

O poeta e tradutor português do neoclassicismo Francisco Manuel do Nascimento, de pseudónimo Filinto Elísio, ou ainda Nisceno, nasceu em Lisboa a 23 de Dezembro de 1734. Pertenceu à sociedade literária «Grupo da Ribeira das Naus», cujos membros adoptavam nomes simbólicos. Filinto Elísio faleceu em Paris, França, a 25 de Fevereiro de 1819.
Poet'anarquista
Filinto Elísio
Poeta Português
SOBRE O POETA…

Poeta português. De origem humilde, tornou-se sacerdote. Francisco Manuel do Nascimento conviveu com a futura marquesa de Alorna, dela recebendo o nome arcádico de Filinto Elísio. Pertenceu ao círculo poético do Grupo da Ribeira das Naus, entrando em disputas com os poetas da Arcádia Lusitana. 

Uma denúncia feita à Inquisição obrigou-o a refugiar-se em França, em 1778, devido às suas ideias enciclopedistas e liberais. Aí conheceu personalidades importantes da cultura francesa, como o poeta Lamartine. Com dificuldades económicas crescentes, viu-se obrigado a escrever, a ensinar e a fazer traduções para garantir a sobrevivência. Entre os autores que traduziu encontram-se Chateaubriand (Os Mártires, 1816), Longino, La Fontaine, D'Alembert, Sóror Mariana Alcoforado (Lettres Portugaises) e Wieland (excertos de Oberon). As suas Obras Completas foram editadas em Paris (1817-1819, 11 tomos). 

Admirador de Horácio, defensor dos ideais iluministas e enciclopedistas, e das revoluções francesa e americana, a permanência em França marcou a sua obra. Nesta lamenta o obscurantismo português, evoca a gastronomia e os costumes pátrios, retrata as dificuldades e a tristeza crescentes da sua doença e da sua velhice. 

O seu estilo segue os preceitos da estética classicista arcádica, sendo um defensor enérgico do purismo da língua. Apesar deste formalismo, muitos dos seus poemas reflectem uma grande intensidade emocional, no que têm de revolta e de sofrimento pessoais, o que faz com que alguns o considerem já precursor do romantismo. Cultivou praticamente todos os géneros da poesia clássica.
Fonte: Astormentas 

UNS LINDOS OLHOS, VIVOS, BEM RASGADOS

Uns lindos olhos, vivos, bem rasgados,
    Um garbo senhoril, nevada alvura;
    Metal de voz que enleva de doçura,
    Dentes de aljôfar, em rubi cravados:

Fios de ouro, que enredam meus cuidados,
    Alvo peito, que cega de candura;
    Mil prendas; e (o que é mais que formosura)
    Uma graça, que rouba mil agrados.

Mil extremos de preço mais subido
    Encerra a linda Márcia, a quem of'reço
    Um culto, que nem dela inda é sabido:

Tão pouco de mim julgo que a mereço,
    Que enojá-la não quero de atrevido
    Co' as penas, que por ela em vão padeço.

Filinto Elísio

TEM A VIRTUDE O PRÉMIO

Tardio às vezes, sempre merecido,
    Tem a Virtude o prémio aparelhado
    Ao profícuo talento, ao peito honrado,
    Que do dever o stádio tem corrido.

O Sábio, que dos louros esquecido
    Só no obrar bem os olhos tem cravado
    Inópino também se acha c'roado
    Por mãos sob'ranas c'o laurel devido

Útil à Pátria seja, as paixões dome,
    Seja piedoso, honesto, afável, justo;
    Que no futuro o espera ínclito nome.»

Assim falou Minerva ao Coro augusto,
    Pondo no Templo do imortal Renome,
    De glória ornado, o teu prezado Busto.

Filinto Elísio

SAUDADE EXTREMA

I
Gentil Rola, que sobre o ramo seco,
    Desse viúvo freixo, brandas queixas
    Espalhas toda a noite, e escutas o eco
    Repetir-te mavioso iguais endechas:

II 
Não chores. Ouve a meu saudoso canto,
    Que excede quanta mágoa arroja a sorte:
    Ninguém, como eu padece extremo tanto,
    Que a ninguém roubou tanto a crua Morte,

III 
Tu viste Márcia: a Márcia, oh Rola, ouviste,
    Quanta beleza, oh Céus! quanta doçura!
    Tem coração de bronze quem resiste
    À dor de a ver no horror da sepultura.

IV
Tu podes ter formosa companhia
    Terna e fiel. Filinto desgraçado
    Te perdeu a sperança lisonjeira
    De achar Márcia em transunto inanimado. 

Filinto Elísio 

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