quinta-feira, 23 de maio de 2013

POESIA - LUÍS DE GÓNGORA

O poeta e dramaturgo espanhol Luís de Góngora y Argote, nasceu em Córdoba a 11 de Julho de 1561. Foi um dos expoentes máximos da literatura barroca do denominado séc. de ouro. Luís de Góngora faleceu na sua terra natal, a 23 de Maio de 1627.
Poet’anarquista
Poeta Espanhol Luís de Góngora
Retratado por Diego Velázquez
SOBRE O POETA...

Poeta espanhol (11/7/1561-23/5/1627). Líder da corrente literária auto-denominada cultismo, desenvolve um estilo, o gongorismo, marcado pelo uso acentuado de hipérboles, metáforas obscuras e dubiedades. Luís de Góngora y Argote nasce em Córdoba e começa a estudar direito em Salamanca.

Em 1581 retorna à cidade natal e logo conquista fama com seus romances, letrilhas e sonetos. É protegido por um tio, Francisco de Góngora, capelão real, sob a condição de receber as ordens menores. Inicia então os estudos religiosos, mas só é ordenado sacerdote aos 56 anos.

Começa a frequentar a corte de Filipe III e passa a levar vida mundana. Cria algumas inimizades literárias, entre elas com Francisco de Quevedo y Villegas, adeptos do conceptismo - culto à sutileza dos conceitos, mais do que à complexidade da forma poética. No fim da vida passa por crises financeiras e chega a ser ameaçado de prisão pelos credores.

Em 1626, mal restabelecido do que parece ter sido uma congestão cerebral, retorna a Córdoba, onde morre no ano seguinte. Não chega a ver a primeira edição completa de seus poemas, que fica pronta no mesmo ano, sob o título «Obras em Versos do Homero Espanhol».
Fonte: http://www.algosobre.com.br/

ROMANCE

A moça mais linda
do nosso lugar,
viúva hoje e só
e ontem por casar,
vendo que seus olhos
vão-se a guerrear,
diz para sua mãe
que escuta seu mal:
Deixai-me chorar,
ó praias do mar.

Pois me destes, mãe,
menina ainda assaz,
tão curto o prazer,
tão longo o penar;
e me cativastes
a quem se hoje vai,
levando o segredo
do meu respirar,
Deixai-me chorar,
ó praias do mar.

Em chorar meus olhos
mudem mais e mais
o afazer suave,
de olhar seu olhar,
já que se não podem
melhor ocupar,
quando vai à guerra
quem era minha paz.
Deixai-me chorar,
ó praias do mar.

Não me ponhais freio
nem queirais culpar:
se uma coisa é justa,
a outra o é por demais.
Se me quereis bem,
mal me não façais,
muito pior fora
morrer-me e calar.
Deixai-me chorar,
ó praias do mar.

Minha doce mãe,
quem não chorará,
tenha embora o peito
de pedra e de cal,
quem não dará brados,
vendo definhar
os melhores anos
do meu desbrochar?
Deixai-me chorar,
ó praias do mar.

Que se vão as noites,
pois não tenho mais
quem meus olhos tinha
nos seus, a velar.
Que se vão, nem vejam
desviver-me já
desde que, em meu leito,
só, me hei de deitar.
Deixai-me chorar,
ó praias do mar.

Luís de Góngora

POEMA 228

Enquanto, ao competir com teu cabelo,
ouro polido ao sol deslumbra em vão;
enquanto com desprezo ao rés-do-chão
olha tua alva frente o lírio belo;

enquanto atrás do lábio, por querê-lo,
mais olhos que do cravo agora vão;
e enquanto triunfa com afetação
do luzente cristal teu ser de gelo;

goza gelo, cabelo, lábio e frente,
antes que tua hora tão dourada,
- ouro, lírio, lilás, cristal luzente -

não só em prata ou flor estiolada
se torne, mas tu e isso juntamente
em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada.

Luís de Góngora

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