terça-feira, 5 de novembro de 2013

OUTROS CONTOS

«A Moura Cassima», um outro conto tradicional português.

«A Moura Cassima»
Ilustração de Maria Keil

17- «A MOURA CASSIMA»

Há muitos, muitos anos, no tempo dos mouros, os soldados de D. Paio conquistaram o castelo de Loulé.
D. Paio não sabia que o governador tinha poderes mágicos...

«Conquista do Castelo de Loulé»
Ilustração de Maria Keil

Quando os soldados invadiram o castelo, o governador  disse às suas  três lindas filhas:
- Filhas, vou ter de fugir para Tânger porque os cristãos venceram! Infelizmente, não podem vir comigo. Mas, um dia, eu prometo que volto!

Então,  o governador levou as suas três filhas a um campo onde havia uma fonte  e, nesse momento, começou a  cantar  uma melodia muito triste!
De repente, as três filhas desapareceram.
Entretanto, o governador, nessa noite, conseguiu arranjar  um barco (lá para os lados da Quarteira) que o levou até à costa africana.

«Governador a caminho da Costa Africana»
Ilustração de Maria Keil

Os mouros que ficaram no Algarve a combater os cristãos acabaram por fugir para Tânger, levando alguns cristãos presos para serem vendidos na praça pública.
Passado algum tempo, o antigo governador ia a passear e viu o carpinteiro de Loulé na praça pública de Tânger.

«O Carpinteiro»
Ilustração de Maria Keil

Aproximou-se do carpinteiro e os dois começaram a conversar. A certa altura o carpinteiro disse:
-Quando saí de Loulé falava-se muito das três mouras encantadas! As filhas do governador.
Com esta resposta, o governador tomou uma decisão e pediu ao carpinteiro para ir salvar as filhas a Loulé. Prometeu-lhe que seria recompensado com muitas jóias e riquezas. O carpinteiro disse que sim e jurou cumprir as ordens do governador.
Então, o governador disse:
- Cada um dos  pães  tem um sinal diferente que representa o nome das minhas três filhas. À meia noite, com a Lua Cheia,  vais à fonte e lanças um pão de cada vez, chamando por: Zara, Lídia e Cassima.
- Mas o Algarve é muito longe. Como é que eu chego lá? - perguntou o carpinteiro.

Mais uma vez o mouro usou a sua magia...
- Vês aquele alguidar cheio de água? Põe-te ao lado do alguidar e dá um salto para trás.
O carpinteiro pôs-se ao lado do alguidar.
- Presta atenção: tens de saltar por cima e sem cair!
-E se cair?
-Morrerás afogado no mar!

«Chegada do Carpinteiro a Loulé»
Ilustração Maria Keil

O carpinteiro conseguiu saltar e chegou a Loulé.
Os dias e os meses iam passando e o carpinteiro visitava a fonte todos os domingos. Olhava e chamava pelas belas mouras encantadas. Chegava a casa e ia sempre à arca. Não acontecia nada!

Até que um dia a mulher, que estava muito curiosa,  resolveu perguntar ao marido o que se passava. O carpinteiro disse-lhe:
-Não vás àquela arca!
Mas a mulher era curiosa. Quando o carpinteiro estava na fonte, a mulher abriu a arca e viu os pães. Com uma faca cortou um deles. Nesse mesmo momento o marido ouviu um grito tremendo vindo do fundo da fonte. Ficou sem compreender o que é que tinha acontecido.

«As Mouras Zara, Lídia e Cassima»
Ilustração de Maria Keil

No dia seguinte, à meia-noite, o carpinteiro atirou o primeiro pão e chamou «Zara». Depois, o segundo, e chamou «Lídia» e  finalmente o terceiro e disse: «Cassima»! Nesse instante ouviu o mesmo grito! Cassima então disse: 
- A culpa é da tua mulher. Cortou-me a perna com uma faca. Nunca mais vou sair daqui.

O governador ficou muito triste mas tinha feito uma promessa ao carpinteiro. Por isso recompensou-o com muitas jóias. Ainda hoje, a moura encantada, chamada Cassima, se encontra naquela fonte.

Conto Tradicional Português

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