segunda-feira, 9 de novembro de 2015

OUTROS CONTOS

«Colina de Samambaias», conto poético por Dylan Thomas.

«Colina de Samambaias»
Conto Poético de Dylan Thomas

662- «COLINA DE SAMAMBAIAS»

Quando, junto à casa em festa, sob os ramos da macieira,
Eu era lépido e jovem, e feliz como era verde a relva,
     A noite suspensa sobre as estrelas do desfiladeiro,
          O tempo a permitir que eu gritasse e me erguesse,
    Dourado, no fulgurante apogeu de seus olhos,
Eu, venerado entre as carroças, era o príncipe da cidade das maçãs,
E certa vez, com orgulho, fiz com que as árvores e as folhas
            Se arrastassem com margaridas e cevada
     Até os rios iluminados pelos frutos caídos sobre a terra.

E como era moço e descuidado, famoso entre os celeiros
Ao redor do pátio feliz, e cantava, pois a fazenda era o meu lar,
   Sob o sol, que é jovem apenas uma vez,
         O tempo deixava-me brincar e ser dourado
    Na misericórdia de seus bens,
E, verde e dourado, eu era caçador e pastor, mugiam os bezerros
Ao som de minha trompa, das colinas vinha o uivo claro e frio das raposas,
        E lentamente ecoava a celebração do domingo
    Nos seixos dos córregos sagrados.

Tudo fluía e era belo sob o sol: os campos de feno
Altos como a casa, a música das chaminés, tudo era ar
     E ecoava, cheio de água e sortilégio,
         E fogo era tão verde quanto a relva,
    E à noite, sob a luz das estrelas humildes,
Enquanto eu cavalgava rumo ao sono, as corujas subjugavam a fazenda,
E sob a lua, abençoado entre os estábulos, eu ouvia os noitibós
        Voando entre as medas, e os cavalos
    Que flamejavam em meio às trevas.

E então, ao despertar, a fazenda, como um vagabundo
Branco de orvalho, regressa com o galo sobre o ombro: tudo
    Fulgia, tudo era Adão e sua donzela,
       O céu se adensava outra vez
   E o sol crescia ao redor daquele dia imaculado.
Assim deve ter sido após o nascimento da luz elementar
No primitivo espaço giratório, e os ardentes cavalos encantados
       Saíam relinchando da verde estrebaria
   Rumo ao campo da celebração.

E na casa em festa, venerado entre raposas e faisões,
Sob as nuvens recém-formadas, e tão feliz quanto era grande o coração,
    Ao sol que renasce a cada dia,
       Eu corria por meus caminhos temerários,
   Meus desejos  se precipitavam pelo alto feno da casa
E nada me importava, em meu comércio celestial, pois o tempo
Em suas órbitas melodiosas, só concede raras canções matinais
         Antes que as crianças verdes e douradas
    O acompanham até o estertor da graça,

Nada me importava, nos dias brancos como cordeiros, que o tempo
                                                                                     [me levasse,
Pela sombra de minhas mãos, até o paiol cheio de andorinhas,
    Sob a lua que jamais deixa de galgar os céus,
      Nem mesmo, ao cavalgar rumo ao sono,
    Que chegasse a ouvi-la flutuar entre os altos campos
E acordasse na fazenda apagada para sempre nessa terra sem crianças,
Ah! Quando eu era lépido e jovem, na misericórdia de seus bens,
   Embora eu cantasse em meus grilhões como canta o mar.

Dylan Thomas

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